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20%, 30%, 50%

by Ricardo Bánffy last modified Nov 19, 2008 07:29 PM

Os três fatores mais importantes para a aquisição e manutenção do market-share da Microsoft

Quem tem culpa da MS dominar o mercado?

Estava conversando sobre isso com um colega outro dia. Muito do monopólio da MS hoje não se deve tanto à competência dela em reconhecer tendências (e aproveitá-las, com produtos e estratégias) como à inépcia dos seus concorrentes que não raro insistem em ir contra a razão ou se atacar entre si. Claro que a conduta da empresa não é exemplar - afinal, ela foi condenada por comportamento anti-competitivo nos EUA e na União Européia e enfrenta processo semelhante na Coréia do Sul - mas nem méritos (que ela tem de sobra) nem suas práticas comerciais questionáveis (que ela também tem de sobra) podem, isoladamente ou em conjunto, explicar a completa dominação do mercado que ela tem.

  • A Digital Research deixou de vender o CP/M pra IBM porque a esposa de Gary Kildall não quis assinar um NDA (a lenda de que ele estava pilotando seu avião e, por isso, faltou à reunião é, provavelmente, apenas lenda). Quando a IBM passou a oferecer o CPM/86 como opção ao DOS, ele era tão mais caro que ninguém comprava.
  • A IBM deixou a Microsoft vender o DOS para outros fabricantes de computadores. O mercado de clones (que terminou por fazer a IBM desistir de fazer PCs e vender seu negócio de desktops para a chinesa Lenovo) nasceu assim.
  • A mesma Digital Research fez o GEM, que foi lançado antes do Windows. No entanto, era quase impossível comprá-lo - para tê-lo você tinha que comprar um produto que viesse com ele ou comprar o kit de desenvolvimento do GEM. Quem usou Ventura Publisher, usou GEM. O GEM era uma GUI tão Mac-like que fez a Apple processá-los e, para acalmar a ira dos advogados da Apple, a Digital Research teve que deixá-lo menos usável ainda do que o Windows 1. Ninguém comprou.
  • A Lotus demorou uma eternidade para lançar uma versão gráfica do 123, anos depois da do LisaCalc no Lisa, do Multiplan no Mac e do Excel no Windows mostrarem como devia ser uma planilha em um ambiente gráfico (que não mudou quase nada desde então). Quando finalmente o fez, era uma versão para o OS/2.
  • A Borland fez quase o mesmo com o Quatro Pro. Errou um pouco menos - a versão era para Windows 3.
  • A mesma IBM, que ajudou a Microsoft a viabilizar seus competidores, vendia micros com OS/2 mais caro do que vendia micros com Windows. Eu sei porque eu quis comprar um.
  • Essa mesma IBM tornou quase impossível desenvolver drivers para OS/2. O kit de desenvolvimento de drivers só apareceu, se bem me lembro, nos tempos do Warp e não vinha com um compilador - que tinha que ser comprado à parte, a peso de urânio enriquecido. Provavelmente era um compilador Microsoft. OS/2 era lindo, rápido, não travava e nem imprimia.
  • Qualquer um podia ter lançado um ambiente de desenvolvimento integrado depois da Apple mostrar como se faz um GUI builder no Hypercard, da NeXT no Interface Builder e do Whitewater Group, no Actor - todos com excelentes linguagens por trás, mas a MS fez para o Windows o primeiro IDE com GUI builder e uma linguagem meia-boca que qualquer programador com QI de dois dígitos aprende. Isso nos condenou a viver com o VB (e programadores com QI de dois dígitos) até hoje.
  • A Apple sempre achou que seus computadores eram tão bons, mas tão bons, que se venderiam por si. Um Macintosh, até pouco tempo atrás, era tão mais caro que um PC genérico que se tornou um símbolo de status. por muitos anos, empresas que tivessem uma rede de PCs não tinham um jeito fácil de integrar Macs a elas. E vice-versa. Até os anos do System 7, se bem me lembro, um Mac nem mesmo podia trocar disquetes com um PC. Enquanto a Apple olhava pro jeito Microsoft de partilhar arquivos e gritava "Not Invented Here", a Microsoft fazia o Windows NT servir arquivos para redes PC e Macintosh. E funcionava.
  • Nenhum fornecedor de Unixes proprietários tentou competir seriamente com o Windows e com o OS/2 e os preços raramente desceram das nuvens - a licença de um revoltantemente feio ambiente gráfico CDE custava um rim e um olho. Por usuário. Quando o primeiro Unix-like livre e barato apareceu (o 386/BSD), o Unix System Labs resolveu processá-los, o que deixou o produto atolado em um lamaçal jurídico por vários anos. Durante esses anos, o Linux foi construído praticamente do zero, pois não seria "seguro" usar código do BSD nele até a ação acabar. Quando ela acabou, se descobriu que, na verdade, era o Unix da USL que usava código do BSD não-creditado - violando a licença BSD, que só pede isso - que se diga que foram eles que fizeram. Isso garantiu que o OS/2 e o Windows NT não tivessem nenhum competidor de peso em plataforma x86 por vários anos.

A dominação do mercado pela MS é uns 20% mérito, 30% práticas questionáveis e 50% burrice da competição.

 

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© Ricardo Bánffy