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Medo, Macintosh e Intel Inside

by Ricardo Bánffy last modified Nov 19, 2008 07:29 PM
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Segunda-feira, no WWDC (Worldwide Developers Conference) Steve Jobs, Co-fundador e CEO da Apple anunciou o que muitos achavam impossível (eu inclusive): que a Apple ia fazer Macintoshes com processadores Intel x86.

Eu tenho que confessar que, no começo, eu fiquei bem preocupado.

Afinal, o x86 é uma arquitetura com mais de 25 anos. Um x86, mesmo de 64 bits, tem poucos registradores (que são lugares que podem guardar informações para serem acessadas rapidamente), instruções mais complexas (que podem levar vários ciclos de máquina para executar) e dependências entre elas que dificultam que sejam executadas em paralelo, o que acontece sempre em CPUs recentes.

Por outro lado, os PowerPCs têm muitos registradores, que podem guardar mais informações e, assim, acessá-las mais rápido. As instruções são simples, executam rapidamente e podem ser facilmente agrupadas para executar em paralelo nas CPUs como o PowerPC 970 (o G5). O PowerPC também tem ainda o AltiVec, um processador vetorial que permite fazer a mesma operação em vários valores de uma vez. É principalmente por conta dele que um PowerPC dá um banho em um Pentium 4 com clock bem maior.

Ao mesmo tempo, o PowerPC domina a próxima geração de videogames (que são alguns dos computadores domésticos mais poderosos que existem). Tanto o Cell quando o Xenon (o processador do XBox) são derivados do PowerPC. Não são PPCs espertos como o G5, mas o Cell tem 8 coprocessadores que deixam o mais veloz dos Pentiums 4 (ou dos PowerPCs) comendo poeira e o Xenon, ainda que não tenha esses coprocessadores, é capaz de executar seis tarefas ao mesmo tempo - como se fossem seis processadores. O pouco que sabemos do próximo Nintendo, o Revolution, é que ele usa um PowerPC.

Por tudo isso, eu sempre achei que a Apple não seria doida de migrar seu hardware para processadores Intel - A família PowerPC tem bastante chão pela frente e nem começou a ter que fazer os sacrifícios que o x86 tem feito para ganhar mais um pouco de performance.

Nem Tudo São Flores

Infelizmente, nem tudo é perfeito no mundo. A IBM ainda não tem o PowerPC 970 de 3 GHz que o Jobs prometeu e não existe um G5 que possa ser espremido pra dentro de um notebook. Isso limita o quanto a Apple pode inovar e a inovação é a alma da Apple.

Coração e Alma

Para a Microsoft, por exemplo, portar e manter o Windows para uma outra plataforma parece ser uma enorme dor-de-cabeça. Levou um tempão com o Itanium. Levou com o AMD64. Outras versões nem existem mais.

Logo, portar o MacOS para Intel seria um pesadelo.

Errado: O coração do MacOS, o Darwin, é um Unix. Como todo Unix, ele pode ser portado para novas arquiteturas com relativa facilidade. Existem versões de Darwin que rodam em PCs e a Apple tem mantido uma versão do OSX capaz de rodar neles desde sempre (embora quanto do OSX rodava com processadores Intel sempre foi um segredo muito bem guardado).

Desenvolvedores já podem comprar da Apple um Pentium 4 com a versão 10.4.1 do OSX e o XCode 2.1. Entregam em 15 dias.

O novo XCode permite que você faça "binários universais" (coisa resgatada da transição dos Macs do 68K pro PPC) em que o mesmo programa tem, dentro dele, versões PPC e x86. É assim que os programas vão ser nos próximos anos - idênticos em duas plataformas de hardware.

Programas feitos para PowerPC devem rodar sob um meio-emulador chamado Rosetta. "Meio" porque boa parte do tempo, ele roda nativamente - tudo do MacOS para PowerPC está lá e pode ser usado diretamente. No fim, emulado mesmo só o código do programa. Quem viu, diz que o Office rodou direitinho.

O que muda?

Pro usuário? Quase nada.

O Mac é o computador ideal para quem não gosta de computador. Quem compra um Mac quer poder trabalhar, quer um micro que funciona, que seja fácil de usar e que não pegue vírus. E não liga a mínima se o processador é um PowerPC ou um Pentium 4, 5 ou 6.

No fim das contas, quem perdeu foi o medo. Nada de ruim aconteceu nesse WWDC.

Só coisas boas.

Este artigo também está disponível (em versão levemente editada) no site do Link e na edição impressa de 13/6/2005.

© Ricardo Bánffy