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Oportunidade Imperdível

by Ricardo Bánffy last modified Nov 19, 2008 07:29 PM

Muita gente que trabalha na área de TI quer colocar as mãos em um beta do Windows Vista. Eu entendo isso - eu mesmo gostaria de dar mais do que uma breve olhada nele. É bom saber o que vai estar sendo usado por um bom número de clientes meus e como eu posso direcionar meus produtos para que eles funcionem melhor com ele do que funcionam hoje com o Windows XP ou o Windows 2000, ou com o 98 (que, por incrível que possa parecer, muitos usam).

Isso sem contar com todo o hype que a imprensa especializada está fazendo, com longas matérias, cheias de imagens e promessas sobre um sistema operacional que um dia ainda ficará pronto.

Mas este mês vai estar disponível uma coisa diferente.

Ubuntu?

Eu acabo de baixar e instalar um preview do Ubuntu Linux 5.10. A palavra "Ubuntu" quer dizer (segundo o site deles) algo como "ser legal um com o outro". O Ubuntu Linux de que eu estou falando é, provavelmente, o sistema operacional baseado em Linux mais palatável para usuários "normais" que existe. 5.10 é porque ele deve estar pronto em outubro (10) de 2005 (5). A nomenclatura pode parecer confusa a princípio, mas, para quem já passou por designações como 3.0, 3.1, 3.11, NT, 95, 98, Me, 2000, XP, 2003 e, agora, Vista, essa nomenclatura é um caminhão de bom-senso. A atual versão oficial é o 5.04.

Eu me converti completamente ao Ubuntu fazem mais ou menos uns 3 meses. Eu já havia abandonado o Windows em muitas funções, mas meu computador de trabalho principal ainda era uma máquina Windows. Hoje meu uso do Windows se limita a testar coisas no Internet Explorer (aquele browser esquisito que não respeita padrões, mas que todos usam porque veio de graça com o Windows, que, por sua vez, todos usam porque veio de graça com o micro) e ao desenvolvimento de um projeto para um cliente que pede especificamente por C# e Visual Studio 2005 (que, não me entendam mal, é um excelente ambiente de desenvolvimento, mas desde que você desenvolva apenas para Windows).

Quanto ao Ubuntu, e porque eu acho que você deveria experimentá-lo, é simples. Ele é novo, é bonito, é maduro, é bem fácil de instalar, é bem fácil de usar e, mais do que isso, não é um beta de um produto que só fica pronto no ano que vem.

Vamos fazer uma digressão rápida sobre a anatomia de um Linux moderno.

Sistemas Operacionais 101

Para um usuário de Windows (ou MacOS), sistema operacional é tudo aquilo que vem no CD (ou DVD) de instalação. Seguindo esse raciocínio, joguinhos como "Campo Minado" e "Paciência" são parte do sistema operacional. O jeitão das janelas, idem, os ícones e as fontes, também. Media Player? Também. Internet Explorer? A Microsoft recomenda não tentar desinstalá-lo porque coisas ruins podem acontecer. Tirar o IE do Windows é como tirar um rim de você. Você pode continuar vivo, mas não vai achar divertido.

Usuários Linux (e outros sabores de Unix) costumam saber mais. Sistema operacional é o que você precisa para fazer o computador funcionar. No nível mais básico, você precisa do kernel (o que está rodando no meu computador chama-se Linux e é daí que vem o sobrenome do Ubuntu Linux). O kernel é mais ou menos tudo o que você precisa para rodar um programinha simples para, por exemplo, mostrar as horas ou um que me deixa escolher um outro programa para ser executado. Se você tem alguma dúvida e acha que o Linux é desenvolvido de um jeito caótico demais, ou por ele ser aberto e normalmente gratuito, fique tranquilo: vários dos computadores mais sérios do planeta rodam Linux. Se alguém confia muitos milhões de dólares em computador a ele, você pode fazer o mesmo com seu PC.

Por cima do kernel (ou em volta dele) temos outros programas que fazem parte de um pacote chamado de GNU (daí a designação GNU/Linux) e um monte de bibliotecas (que permitem a outros programas fazerem coisas como decodificar áudio e vídeo ou ler e gravar arquivos comprimidos). Um andar pra cima, temos o X Window System. O X é um dos mais antigos ferramentais para fazer janelas, ícones e afins que existe. Ele foi projetado no MIT (o mesmo pessoal que mostrou hoje um notebook de US$100 que, eu espero, seja incendiariamente revolucionário) e há muitos anos é capaz de coisas que o Windows aprendeu a fazer umas duas versões para trás e outras que ele ainda não aprendeu a fazer - por exemplo, rodar um programa gráfico em um computador e mostrar as janelas dele em outro. Apesar de antigo, o X está sendo ativamente desenvolvido e melhorado. Acima do X temos coisas como o Gtk/Gnome ou o Qt/KDE. Gnome e KDE são ambientes gráficos. O pessoal do Ubuntu empacota o Gnome, mas eu posso instalar programas (isso merece o próximo parágrafo) que rodam com o KDE e rodá-los tranquilamente e vice-versa. Gnome e KDE são o que um usuário de Windows chamaria, erradamente, de sistema operacional.

Instalar e desinstalar programas também é simples - muito mais do que no Windows. Para isso, usa-se um único programa que sabe que programas existem para o Ubuntu, o que eles fazem, de que outros "pacotes" eles dependem para rodar e sabe sempre o que está instalado e o que deve ser atualizado. Com o clicar de um botão, ele faz o download e a instalação de todos os pedacinhos necessários para que tudo funcione. Com o clicar de um botão, ele remove um pacote e todos os que dependem dele, evitando que programas fiquem quebrados.

Cada um dos pedacinhos que compõe a "pilha de software" de uma máquina dessas vem de um lugar, consórcio, grupo ou empresa diferente. Eles funcionam muito bem juntos por conta dos padrões abertos que todos respeitam. O que ganha o nome de "Ubuntu Linux" é, na verdade, um produto editorial. É como um livro de contos em que o editor escolhe contos de vários autores diferentes para fazer um livro interessante.

Ubuntu é bonito

Voltando ao que nos interessa de fato, o Ubuntu vem com a versão mais nova do Gnome, a 2.12. Se você nunca usou um Gnome, não faz muito sentido dizer que ele é melhor que a última versão. Basta dizer que ele é muito bonito e cômodo de usar. Além de bonito, ele é "temável", o que quer dizer que você pode personalizá-lo ao extremo. Se você se acha castrado em sua criatividade com as opções do Windows XP (azul, verde, cromo e "cara-de-2000"), vai adorar o Gnome. Você pode trocar tudo, de controles, a beiradas de janela a ícones. Pode trocar a tela de splash e a tela de login. Pode deixar seu Gnome com cara de Gnome, com cara de Windows, de Mac, de NeXT, de BeOS, de Silicon Graphics e do que mais sua imaginação permitir. E, se você quiser, pode disponibilizar a sua criação (com ícones seus, fundos seus, cores suas) para que outros possam desfrutar dela. Você pode ainda fazer o download de outros temas, conjuntos de ícones para deixar o seu micro exatamente a sua cara.

Software-livre tem essa ênfase na sua (é - você aí que está lendo) liberdade de fazer com ele o que você quiser. Eu tenho até medo do trampo que dá fazer isso no Windows (ou no MacOS, por exemplo). Meus Windows e meus Macs todos têm a cara padrão do sistema. Parei de brincar com isso no tempo do Windows 3.1, quando isso ainda era mais ou menos difícil - hoje é virtualmente impossível.

Se a sua desculpa para instalar um Windows Vista é porque você está cansado do visual do seu XP (eu estou), bom... Lembre-se que você tem opção.

OpenOffice

No mesmo CD do Ubuntu você vai encontrar o OpenOffice 2. Essa versão é bem usável e consegue abrir arquivos do Office quase sempre (o que é impressionante, já que a Microsoft nunca documentou direito nenhum dos formatos mais usados do Office) e é capaz de ler e gravar os formatos que o estado de Massachussets recentemente (e, espero, isso incentive outros governos lá, aqui e em todos os lugares, a abraçar formatos de dados abertos) adotou como obrigatórios em todas as atividades governamentais (o frequentemente odiado Nicholas Carr reluta pacas mas acaba admitindo que é uma boa idéia). Isso, na verdade, merece um artigo à parte (que não é este aqui), mas é realmente o cúmulo um governo obrigar um cidadão a usar Windows para poder preencher um formulário. O OpenOffice 2 vem com um banco de dados, colocando-o, mais ou menos, no mesmo pé do Office Professional (que custa bem caro e, normalmente, não vem de graça com seu micro). Adicione-se a isso o fato dele poder gravar apresentações em formato Flash (para serem diretamente disponibilizadas na web) e qualquer documento em PDF (para serem vistas por quem não tiver um Office) e você tem um pacote muito capaz por um preço imbatível - zero. Claro que, em empresas, deve se considerar os custos de migração e suporte, mas isso é apenas mais um número para entrar na conta.

Fora isso, o CD vem com o Evolution, um substituto para o Outlook que, inclusive, fala com servidores Exchange, o Firefox, um browser muito mais "bem educado" do que o Internet Explorer (e que tem versão pra Windows), GIMP (para manipular fotos e imagens), suporte simples e fácil a cameras digitais e scanners, vários jogos e outras amenidades. O melhor de tudo é que não é software "simplificado" como, por exemplo, um Windows Starter Edition. São todos programas da mais alta qualidade e com recursos que muitos concorrentes proprietários não tem.

Redondo

É impressionante (embora não surpreendente) como tudo funciona redondo no Ubuntu. Onde o Windows XP engasgou (ele precisa de um CD de drivers para entender o som do meu desktop, por exemplo), o Ubuntu funciona perfeitamente. Ele encontrou o som, rede sem fio, HD externo, gravador de DVD e a placa de vídeo. Fracassou em encontrar o modem (coisa em que o Windows também fracassou). Como eu não uso modem pra nada, não me preocupei com isso. Se você não tem acesso de banda-larga, contrate um.

Mas e eu?

Não vou dizer que o Ubuntu seja o sistema operacional certo para você (essa não é uma pergunta que eu possa responder), mas, a menos que sua vida no computador envolva muito mais do que ler e-mails, preparar planilhas, escrever documentos e relatórios com gráficos, planilhas e bancos de dados, navegar pela web, ouvir MP3 e conversar com seus colegas no MSN (ICQ, Gmail, AIM, Yahoo, .Mac, etc), nem você nem sua empresa precisam gastar em licenças de Windows e Office para trabalhar.

E, se você programa para qualquer outra plataforma que não seja Windows, não sei porque diabos você estaria usando Windows.

Se você está cansado dos vírus e do spyware que insistem em aparecer no seu computador, se hackers tiram seu sono e tudo o que você quer é trabalhar sossegado no seu micro, faça essa experiência.

Se você tem medo de software beta, espere mais uns dias. Ele fica pronto em outubro. O Vista só fica pronto no ano que vem.

Se você vai instalar um Vista, aproveite e instale um Ubuntu no resto do disco. O beta de hoje vai se atualizar automaticamente para o final quando ele sair, e, depois disso, vai continuar se atualizando, o sistema e todos os programas. Sem dor-de-cabeça. Grátis. Para sempre.

Se você não puder separar um micro para isso - e a própria Microsoft diz que é mais ou menos insano instalar um Windows beta em sua máquina de trabalho - você pode experimentar o Ubuntu Live. Ubuntu Live é um CD que você pode usar para bootar sua máquina com o Ubuntu sem chegar a instalá-lo. Você precisa colocar o CD dentro do drive e reiniciar o computador. É lento, pois roda do CD, mas dá pra ter uma idéia de como a sua máquina vai se comportar se você decidir instalá-lo.

Em suma, a menos que você se sinta compelido a usar o Windows e a nunca, jamais, examinar suas opções, vá até lá, baixe sua cópia e depois nos diga o que achou. Eu tenho certeza de que você vai ficar positivamente surpreso.

E, se dessa vez você não quiser tentar, espere mais 6 meses. A cada 6 meses é lançada uma nova versão do Ubuntu. É só esperar pela versão 6.04, que chega pontualmente daqui a 6 meses.

Este artigo também está disponível aqui.

© Ricardo Bánffy