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Fazendo um pouco melhor (ainda a provinha do GDD)

Ainda não desisti de resolver a prova do GDD em Erlang. Não. Não preciso resolver em Erlang, mas, com tanta gente usando Java, PHP e até PL/SQL pra resolvê-la (e com um amigo que usou Haskell), eu fiquei com vontade.

Também posso repetir uma do ano passado e fazê-la em Lisp.

Então. Erlang é avessa a loops. Loops fazem coisas mudarem de estado e linguagens funcionais não gostam que coisas mudem de estado. O dialeto de Lisp que eu usei ano passado também, mas faz uma concessão e me deixa fazê-los.

O comparador

Assim, a nossa primeira função com loop da prova, cmp_goog, que é assim:

def cmp_googlon(p1, p2):
    v = 'jgptzmqskbclrhdfnvwx'
    for l1, l2 in zip(p1, p2):
        if v.index(l1) != v.index(l2):
            return v.index(l1) - v.index(l2)
    return len(p1) - len(p2)

Ficaria assim:

def cmp_googlon(p1, p2):
    v = 'jgptzmqskbclrhdfnvwx'
    if p1 == p2: return 0
    elif len(p1) == 0 or len(p2) == 0: return len(p1) - len(p2)
    elif p1[0] == p2[0]: return cmp_googlon(p1[1:], p2[1:])
    else: return  v.index(p1[0]) - v.index(p2[0])

Note que, em vez de comparar as strings em um loop, eu comparo só seus primeiros elementos e, se os dois forem iguais, eu chamo o comparador de novo, agora com as strings sem a primeira posição.

Bases numéricas

A outra função serve para nos dar o valor em base 10 de um número em googlon. O original é um clássico, em que você percorre os dígitos do número e vai totalizando os valores de cada casa:

def valor_numerico(p):
    v = 'jgptzmqskbclrhdfnvwx'
    vn = 0
    i = 0
    for c in p:
        vn += v.index(c) * (20 ** i)
        i += 1
    return vn

A idéia é que o valor de um número é o valor do seu dígito menos significativo somado ao produto da base multiplicada pelo valor do resto. No caso de números em base 10, 123 é dado pela soma de 3 com o produto de 10 e 12, sendo que 12 é dado por 2 somado a 10 vezes 1. Transcrito em Python, a nova versão é bem mais concisa:

def valor_numerico_f(p):
    v = 'jgptzmqskbclrhdfnvwx'
    if len(p) == 1:
        return v.index(p)
    else:
        return v.index(p[0]) + 20 * valor_numerico_f(p[1:])

Agora eu preciso de algumas horas para escrever a versão em Erlang. Desejem-me sorte.

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Solução para a provinha do Google Developer Day 2011 em Python

Esse ano, resolvi tratar com um pouco mais de respeito a prova do GDD. Ano passado, eu resolvi com o prompt do Python aberto, olhando o browser em uma janela e o prompt na outra. Esse ano, as perguntas eram um pouco mais trabalhosas e as strings maiores e isso me fez, em vez disso, escrever um programa. Mais tarde eu coloco o programa no github, mas, por hora, eu transcrevo e comento aqui a minha solução.

A prova apresenta dois textos escritos no idioma Googlon, com os quais vamos trabalhar, e quatro perguntas. Para ajudar (eles são realmente bonzinhos), eles dão as soluções para o primeiro texto, o que ajuda a testar se o código está correto.

Letras foo, bar e preposições

A primeira pergunta explica que algumas letras são chamadas de "letras foo" e todas as demais, "letras bar" e que preposições são palavras de cinco letras que começam com uma letra bar e não contém a letra "q" (é muito provável que a sua prova seja diferente da minha e que elas sejam geradas aleatoriamente - é como eu faria). Para ajudar a resolver, eu escrevi algumas funções

def foo(l):
    return l in "snrbg"

def bar(l):
    return not foo(l)

def preposicao(p):
    return len(p) == 5 and bar(p[-1]) and 'q' not in p

Aí, testar a resposta dada no enunciado é fácil:

>>> palavras_a = texto_a.split(' ')
>>> len(filter(preposicao, palavras_a))
63

Assim como responder a pergunta:

>>> palavras_b= texto_b.split(' ')
>>> len(filter(preposicao, palavras_b))
57

Verbos e verbos em primeira pessoa

A segunda pergunta ensina que verbos são palavras de 6 letras que terminam em uma letra bar. Se ele também começar com uma letra bar, estará em primeira pessoa.

def verbo(p):
    return len(p) >= 6 and bar(p[-1])

def verbo_primeira_pessoa(p):
    return verbo(p) and bar(p[0])

Agora podemos testar nosso código com o dado do enunciado:

>>> len(filter(verbo, palavras_a)) == 216
True
>>> len(filter(verbo_primeira_pessoa, palavras_a)) == 160
True

E descobrir a nossa própria resposta:

>>> len(filter(verbo, palavras_b))
224
>>> len(filter(verbo_primeira_pessoa, palavras_b))
154

No meu caso, eu tinha 224 verbos, dos quais 154 em primeira pessoa.

Vocabulário

Agora o problema pede para criar uma lista com o vocabulário, ordenado segundo o alfabeto googlon. Para isso, eu vou usar o ordenador que já vem embutido nas listas do Python e vou produzir uma função de comparação. Essa função pode ser facilmente plugada em seu próprio sort, se você quiser muito:

def cmp_googlon(p1, p2):
    v = 'jgptzmqskbclrhdfnvwx'
    for l1, l2 in zip(p1, p2):
        if v.index(l1) != v.index(l2):
            return v.index(l1) - v.index(l2)
    return len(p1) - len(p2)

E podemos testar com os dados do enunciado:

>>> vocabulario_a_unsorted = list(set(palavras_a))
>>> ' '.join(sorted(vocabulario_a_unsorted, 
...                        cmp = cmp_googlon)) == vocabulario_a
True

Nota: ao construir um set com as palavras do texto A, eu eliminei as repetições. Como objetos do tipo set não são ordenáveis, eu transformei o conjunto em uma lista. 

Agora podemos encontrar nossa resposta:

>>> vocabulario_b_unsorted = list(set(palavras_b))
>>> vocabulario_b = ' '.join(sorted(vocabulario_b_unsorted, cmp = cmp_googlon))
>>> vocabulario_b
'jgspd jgv jpgzkx jzvjw jmrmlq jmdxx jmntpzq jqw jspk jkc jbb jcphbk jch jcv jlkm...

Números

Agora a prova nos explica que todas as palavras em googlon tem um valor numérico. Em googlon, os números são escritos do dígito menos significativo para o mais significativo e em base 20. Pra isso, precisamos de mais uma função:

def valor_numerico(p):
    v = 'jgptzmqskbclrhdfnvwx'
    vn = 0
    i = 0
    for c in p:
        vn += v.index(c) * (20 ** i)
        i += 1
    return vn

que, podemos testar contra o enunciado:

>>> valor_numerico('blsmgpz') == 262603029
True

Essa parte está certa. Mas a pergunta pede para contarmos os números bonitos. Para eles, números bonitos são divisíveis por 5 e maiores que 492528.

def numero_bonito(p):
    return valor_numerico(p) > 492528 and (valor_numerico(p) % 5 == 0)  

Agora podemos testar:

>>> len(filter(numero_bonito, vocabulario_a.split(' '))) == 75
True

E chegar na nossa resposta:

>>> len(filter(numero_bonito, vocabulario_b.split(' '))) 
71

Conclusão

Foi difícil? Nem um pouco. Se você não conseguiu responder por conta própria, precisa estudar mais. Foi mais trabalhosa do que a do ano passado? Um pouco. Por outro lado, ela tinha informações suficientes para você poder testar suas próprias soluções - e isso ajudou quem teve mais problemas para resolver a prova a aprender alguma coisa. Prova boa é assim - você aprende enquanto faz.

Uma última observação: eu gosto de list comprehensions, mas também gosto de map, filter e reduce. O código fica mais limpo quando eles são bem empregados.

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A provinha do GDD, em BASIC (para micros de 8 bits)

A provinha do GDD, em BASIC (para micros de 8 bits)

Eu confesso que me diverti resolvendo a provinha do GDD. Pra quem chegou agora, foi um teste aplicado pelo pessoal da Google para filtrar inscritos no Google Developer Day. Como eles tiveram muito mais inscritos do que espaço físico comportava, fazia sentido. Embora muitos tenham reclamado, era uma prova muito simples e eu resolvi usando duas linguagens diferentes, Python e Clojure, ambas modernas.

BASIC?!

Um passatempo meu é em paleocomputação, em particular computadores obsoletos, daquelas famílias que não deixaram descendentes diretos. Eu coleciono e, quando possível, restauro, computadores antigos - se você tiver um desses, a propósito, aceito doações. Por isso, eu resolvi brincar um pouco e resolver a provinha do GDD usando um TRS-80 Model III e um Apple II (um //e enhanced, para ser mais preciso). Para tornar a minha vida mais fácil (e evitar um divórcio) eu usei emuladores em vez de computadores reais. Com isso eu pude escrever o código usando um editor de textos de verdade e "colá-lo" no emulador. Em ambas as plataformas, usei seus interpretadores BASIC embutidos na ROM.

Um outro motivo é por esse dialeto de BASIC ser uma linguagem muito mais simples e pobre de recursos do que as duas outras que eu usei nessa brincadeira. Essa simplicidade é visível nas construções que aparecem nesses programas. É interessante notar como os mecanismos de controle de fluxo do programa são mínimos e se mapeiam quase que diretamente ao que o processador entende.

O emulador

A história do emulador é, por si, interessante. Para os dois eu usei o MESS. MESS é uma derivação do MAME que pretende replicar, da forma mais precisa possível, computadores obsoletos. Como os pacotes do Ubuntu me deram algumas dores-de-cabeça, eu compilei a versão mais nova do MESS. Não é difícil e o pessoal do IRC (#messdev na EFNet) foi mais do que gentil e eu teria apanhado muito mais sem eles.

Aliás, quanto a essa coisa de IRC, se vocë desenvolve software e não usa, devia usar. IRC é como um monte de projetos são coordenados, reuniões são feitas e dúvidas tiradas. É normalmente mais rápido que listas de discussão e fórums web. Ache velho e feio por sua conta e risco. Eu não levo a sério nenhum projeto de software aberto que não tenha um canal de IRC com desenvolvedores e usuários conversando.

Mas vamos aos problemas, que são o mais interessante

1) O que esse programa faz?

x = 7
y = 4
if y > 2, then
   y = y * 2
else
   x = x * 2
print (x + y)

Em um TRS-80, faríamos assim:

10 X = 7
20 Y = 4
30 IF Y > 2 THEN Y= Y * 2 ELSE X= X * 2
40 PRINT X + Y

Mas isso seria uma estupidez. BASIC (aquele dos anos 70 e 80, pelo menos) é um ambiente interativo - você pode testar idéias de forma rápida e fácil, sem escrever programas. Um programador dos anos 80 faria assim:

X = 7
Y = 4
IF Y > 2 THEN Y= Y * 2 ELSE X= X * 2
PRINT X + Y

E, no seu TRS-80, veria isso:

TRS-80, primeira pergunta

Em um Apple II, por conta do BASIC não ter a palavra ELSE, teríamos que fazer um pouco diferente:

X = 7
Y = 4
IF Y > 2 THEN Y= Y * 2 
IF Y <= 2 THEN X= X * 2
PRINT X + Y

E veria algo como

Apple 2, primeira pergunta

Em forma de programa, no Apple II (e em qualquer caso em que precisássemos de um IF/THEN/ELSE multi-linhas), o jeito típico seria usar um GOTO:

10 X = 7
20 Y = 4
30 IF Y > 2 THEN Y= Y * 2 : GOTO 50
40 X= X * 2
50 PRINT X + Y

E teríamos isso:

Apple 2, primeira pergunta, em programa

Como a versão BASIC disse "15" e concordou com as versões Python e Lisp, eu me dou por satisfeito.

2) Quantas vezes esse programa imprime "hello"?

for i = 1 to 5
   if i != 2, then
      for j = 1 to 9
         print 'hello'

O programa ficaria assim:

10 FOR I = 1 TO 5
20 IF I <> 2 THEN FOR J = 1 TO 9: PRINT "hello": NEXT
30 NEXT

Sorte nossa o FOR J caber em uma linha.

Ainda assim, estamos com o mesmo problema que tivemos na nossa primeira tentativa (no original em Python) - que é nos obrigar a contar. Um jeito um pouco melhor ficaria assim:

10 FOR I = 1 TO 5
20 IF I <> 2 THEN FOR J = 1 TO 9: C = C + 1 : PRINT C, "hello": NEXT
30 NEXT

Alguém pode perguntar: "Qual é o valor inicial de C?". No BASIC daquele tempo variáveis do BASIC são tipadas pelo nome ("C" só pode representar um número real) e variáveis não inicializadas são zero ou, no caso de strings ("C$", por exemplo) strings vazias. Ou seja, assim que o programa começa a rodar, C é zero - e podemos contar com isso.

Se estiver incomodando muito, mas muito mesmo, digite "5 C = 0" e seja feliz. Não vai fazer mal.

Se fizermos isso no TRS-80, ficaremos com algo assim:

TRS-80, segunda pergunta

De novo, podemos ficar felizes. O programa em BASIC concorda com os outros - temos 36 (que é a resposta certa, afinal).

3) Quais números, entre 5 e 2675 são pares e divisíveis por 3?

Aqui estamos tão mal quanto o pessoal que fez com Java. Não dá pra fazer nada tão conciso quanto os exemplos em Python e em Clojure. BASIC não tem nenhuma das funcionalidades de geradores de listas que Ruby, Python, Clojure e qualquer linguagem moderna tem.

10 FOR I = 5 TO 2675
20 IF I / 3 = INT(I /3) AND I / 2 = INT(I / 2) THEN C = C + 1
30 NEXT
40 PRINT C

Quando rodar, o programa vai dizer que há 445 números assim. 

TRS-80, terceira pergunta

4) Números bonitos

A pergunta nos apresenta Barbara e seus critérios para que números sejam ou não bonitos. Para ela, números são bonitos se contiverem um dígito 4 e não contiverem um dígito 9. Ao final, nos pergunta quais números entre 14063 e 24779, inclusive, são bonitos.

Esse fica mais complicado. O BASIC que vinha nesses computadores era limitado e não permitia que o programador definisse funções além do mais trivial (uma linha, sem condições). Vamos, por isso, usar uma técnica há muito esquecida (ou que deveria ter sido) que é passar informações por meio de variáveis globais. No caso dos nossos interpretadores, todas as variáveis são globais. Mesmo quem programa em assembly pode contar com a pilha nessas horas. Em BASIC, nem isso.

Você leu direito. Programar naquele tempo não era fácil.

O esqueleto do programa fica assim:

10 FOR I = 14063 TO 24779
20 GOSUB 10000
30 IF B = 1 THEN C = C + 1
40 NEXT
50 PRINT C
60 END

Mas ainda falta o trecho que começa em 10000 que, você deve ter adivinhado, diz se o I é um número bonito e devolve um 1 em B se ele for. O que você vai ver não é bonito para nenhum valor de I, portanto, prepare-se:

10000 REM Primeiro vemos se tem um 4
10010 I$ = STR$(I)
10020 B = 0
10030 FOR J = 1 TO LEN(I$)
10040 IF MID$(I$, J, 1) = "4" THEN B = 1
10050 NEXT
10060 IF B = 0 THEN RETURN
10070 REM Se tem um 4, procuramos um 9
10080 FOR J = 1 TO LEN(I$)
10090 IF MID$(I$, J, 1) = "9" THEN B = 0
10100 NEXT
10110 RETURN

Após um longo tempo, seu computador vai dizer que são 3047 números bonitos:

Apple 2, quarta pergunta

Nesse ponto, estou começando a achar que eu era mais inteligente nos anos 80. O malabarismo mental de lembrar que variável guarda o que e em que partes do programa essas coisas são alteradas é complicado. E é um bom exercício.

5) Os telefones

A última pergunta nos apresenta um país em que os números de telefone têm 6 dígitos. Números não podem ter dois dígitos consecutivos idênticos, porque isso é caído. A soma dos dígitos tem de ser par, porque isso é legal e o último dígito não pode ser igual ao primeiro, porque isso dá azar.

Vamos começar pelas sub-rotinas. A primeira, para ver se o número de telefone é caído:

10000 REM ve se N$ e caido. Se for, C = 1
10010 C = 0
10020 FOR J = 1 TO LEN(N$) -1
10030 IF MID$(N$, J, 1) = MID$(N$, J + 1, 1) THEN C = 1
10040 NEXT
10050 RETURN

Depois, vendo se ele dá azar:

11000 REM se N$ der azar, A = 1
10010 A = 0
10020 IF LEFT$(N$, 1) = RIGHT$(N$, 1) THEN A = 1
10030 RETURN

E, por fim, se ele é legal:

12000 REM se N$ for legal, L = 1
12010 L = 0: S = 0
12020 FOR J = 1 TO LEN(N$)
12030 S = S + VAL(MID$(N$, J, 1))
12040 NEXT
12050 IF S / 2 = INT(S / 2) THEN L = 1
12060 RETURN

Vale a pena notar um padrão - como todas as variáveis são globais, é preciso tomar cuidado para que um pedaço do programa não estrague o outro. Nessas subrotinas meu habitual "FOR I" passou a ser "FOR J" para que meu loop da sub-rotina não estrague o loop principal. Eu podia também ter reutilizado o L como acumulador da soma e não estragar o S com isso.

O bloco principal

10 FOR I = 1 TO 200
20 READ N$
30 GOSUB 10000
40 GOSUB 11000
50 GOSUB 12000
60 IF C = 0 AND A = 0 AND L = 1 THEN Q = Q + 1
70 NEXT
80 PRINT Q
90 END

Só temos um problema - de onde virão os 200 números? O comando READ, na linha 20, lê um valor de uma série de dados literais embutidos no código. Assim, adicionamos uma série de linhas a partir da linha 1000, cada uma com um comando DATA e uma série de strings. Montamos essa linha com um pouco de mágica de copy e paste e busca e troca.

Sim, eu poderia ter pulado os testes depois do primeiro eliminar o número, assim como ter começado com o teste da linha 12000, que é mais simples e rápido. Os algorítmos poderiam ser melhores também e eu poderia ter usado variáveis inteiras onde possível para que os programas rodassem mais rápido.

São 40 linhas com essa cara:

1000 REM Os numeros que precisamos filtrar
1010 DATA "214966", "215739", "220686", "225051", "225123"
...
1400 DATA "715315", "720200", "720202", "720568", "720576"

Quando rodamos o programa, temos a resposta esperada (já fizemos isso algumas vezes, afinal).

TRS-80, quinta perguntaApple 2, quinta pergunta

TRS-80 e Apple II concordam. 61 parece um bom número.

Isso era mesmo necessário?

Não. Eu não precisava ter feito isso nem mesmo uma vez. A primeira eu fiz porque achei as perguntas interessantes. Muitas e muitas vezes eu já entrevistei pessoas incapazes de escrever um programa de 5 linhas sem ajuda de um Google e, francamente, estou tentado a propor testes formais antes mesmo de um humano colocar os olhos em um currículo. O em Clojure foi motivado pelo contorcionismo sintático de expressar um algoritmo em um cruzamento de Ruby e JavaScript. Esse último veio pelo meu interesse em emuladores, pelo meu interesse em computadores antigos e por eu achar que aprender a programar com um computador de 8 bits é divertido. A simplicidade desses computadores facilita ao novato entender, direito, tudo o que acontece dentro deles nem. Não há compiladores cuidando de você e otimizando código ineficiente. Não há milhares de linhas de código de um kernel distribuindo tempo do processador por dezenas de processos. Tudo é bem simples e acontece do jeito que você mandou.

E, na hora de aprender, simples é bom.

Acho que o próximo precisa ser em FORTH. Vou começar a procurar um dialeto legal pra brincar.

E quanto a você?

Se você quiser brincar com um BASIC antigo, eu recomendo que comece lendo os manuais. Manuais do Apple II e do TRS-80 são fáceis de achar. Outra coisa: eu tomei cuidado de escrever esses programas de modo a eles serem portáteis - você pode usá-los em seu Prológica, Microdigital, ou Unitron. Deve poder rodá-los no seu Atari XL ou no seu Commodore 64. Não testei em todos.

Se você achar a brincadeira (é uma brincadeira - ninguém vai pagar vocë por saber programar um computador de 30 anos de idade) legal, compre um computador antigo e cuide dele. Limpe, conserte. Essas máquinas não vão durar para sempre e marcam o momento importante que essa tecnologia deu: quando deixou de ser aquela máquina que vivia fechada em uma sala e passou a ser aquela que tínhamos em casa. Como disse um especialista da Christies sobre o Apple I que foi leiloado esses dias, "é um pedaço de plástico verde que mudou nossas vidas".

Precisamos cuidar deles.

Mais uma coisa: não me escapou o fato de que esses dois BASICs que eu usei são produtos da Microsoft. Ela fazia coisas bem legais nos anos 70.

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A prova do GDD, em Lisp

Outro dia assisti a uma palestra sobre Hadoop e MapReduce. Todos os exemplos foram dados em um pseudocódigo que misturava Ruby com JavaScript enquanto, na minha cabeça, eu os re-escrevia de um jeito que funcionassem de verdade em Python (eu trabalho com isso). Como no meu último post eu já resolvi a provinha do Google Developer Day usando Python (e usei uma função anônima e um filter, vejam só), eu fiquei com a coceira enorme de refazer essas perguntas com Lisp (já que ela expressa maps e reduces como ninguém mais).

No meu laptop eu tenho uns 4 dialetos de Lisp diferentes (não existe uma "implementação canônica" como no caso de Python ou Ruby). Para brincar aqui, eu escolhi Clojure. Clojure é um dialeto de Lisp que roda sobre a máquina virtual do Java (Java é o COBOL do século XXI e provavelmente do XXII, mas a VM e toda a infra-estrutura dela são muito legais). Outro motivo é que o meu Emacs (o IDE to rule them all) está ligado ao Clojure pelo Slime. Eu instalei ambos (Clojure e Slime) com o ELPA, o gerenciador de add-ons do Emacs e, com uma gambiarra e dois symlinks, estou usando o Clojure 1.2 em vez do 1.1 (que é a versão que o ELPA oferece por hora). Eu podia ter tentado usar o Emacs Lisp (o Emacs é quase todo escrito em Emacs Lisp e um REPL dele está sempre disponível), mas ele não é nem um Lisp moderno, nem particularmente gostoso de usar. Podia ter usado Scheme (e provavelmente o resultado seria mais elegante), mas achei que, por rodar na JVM, Clojure é mais "sexy". Qualquer coisa que evite que alguém tenha que escrever código em Java é uma Coisa Boa que merece ser incentivada.

Aqui cabe uma observação: várias linguagens - Scala, Jython, JRuby - permitem que seus programas rodem dentro de máquinas virtuais Java. Todas elas permitem, também, que você use classes que fazem parte tanto do Java propriamente dito como de outros programas nos quais você talvez precise adicionar alguma funcionalidade. A produtividade individual de um desenvolvedor experiente usando uma linguagem como Python e Ruby (dos quais Jython e JRuby são dialetos) já foi observada como sendo superior à de um desenvolvedor igualmente experiente usando Java. Em outras palavras: se você está usando Java você devia dar uma olhada em linguagens mais produtivas.

E isso vale para C#/.NET. Ninguém deveria usar essas tranqueiras.

A propósito, se você quiser ver a resolução da provinha em Jython, vá à outra versão do artigo. É absolutamente a mesma coisa.

Voltando à prova, resolvê-la deu um pouco de trabalho, provavelmente porque eu ainda estou começando a aprender Clojure (o Clojure Programming/Examples/Cookbook e o livro Programming Clojure, de Stuart Halloway tem ambos sido companhia constante aqui - e são bons mesmo como uma introdução ao Lisp - e o The Joy of Clojure é o próximo no wish-list, para assim que estiver pronto) e porque lembro muito pouco de outros dialetos de Lisp (e o pouco que eu lembro, parece, mais atrapalha do que ajuda).

Aviso muito importante: Eu disse isso acima, mas preciso repetir: estou aprendendo Clojure. Posso ter feito alguma barbaridade sem saber. Mais: não fiz qualquer tentativa de otimizar o código exceto para concisão e legibilidade. Também não fiz TDD. E, por favor, não considere meu estilo pessoal como algo que seja bem-vindo (ou mesmo socialmente aceito) entre programadores Lisp ou Clojure. Aceite meus conselhos por sua conta e risco e não me culpe de nada.

Agora que você foi adequadamente avisado, vamos à provinha:

1) O que esse programa faz?

x = 7
y = 4
if y > 2, then
   y = y * 2
else
   x = x * 2
print (x + y)

No REPL do Clojure, eu fiz assim:

user> (def x 7)
#'user/x
user> (def y 4) 
#'user/y
user> (if (> y 2) (def y (* 2 y)) (def x (* 2 x)))
#'user/y
user> (+ x y)
15

O programa do exercício imprime "15".

2) Quantas vezes esse programa imprime "hello"?

Na linguagem do exercício os loops incluem as extremidades.

for i = 1 to 5
   if i != 2, then
      for j = 1 to 9
         print 'hello'

Vou fingir que, de olhar o pseudocódigo, não dá pra sacar que o programa roda 4 vezes o loop interno e imprime "hello" 36 vezes.

Em Clojure, não temos loops como em Python (ou C, ou quase qualquer outra linguagem desse time). Vamos usar uma list comprehension com o efeito colateral de imprimir coisas na tela.

(for [
        i (range 1 6) 
        j (range 1 10)
     ] 
     (if (not= i 2) 
         (println "hello")
     )
)

Ou, de um jeito um pouco mais Clojure, usando a cláusula ":when" no binding dos ranges no lugar do "jeito C de fazer" com o if dentro do bloco:

(for [
      i (range 1 6) 
      j (range 1 10)
      :when (not= i 2) 
      ] 
  (println "hello")
  )

Executando isso no REPL, ele vai imprimir os "hello"s (como o exemplo em Python fez) entrecortados pelo retorno da list comprehension (que o Python não fez) e isso é chato de contar (ainda mais chato do que o exemplo do Python). Do mesmo jeito que eu fiz com Python, eu vou usar um contador. Como o Clojure abraça a idéia de programação sem efeitos-colaterais e memória transacional, você precisa envolver a coisa cujo estado você pretende alterar em um pouco de burocracia. Famos criar um contador mutável que pode ter seu valor alterado durante a execução do programa.

(def contador (ref 0))

E, com isso, nosso código fica assim:

user> (def contador (ref 0))
(for [
      i (range 1 6)
      j (range 1 10)
      :when (not= i 2)
      ]
  (println (dosync (alter contador inc)) "hello")
  )

A função "dosync" cuida da transação (eu poderia alterar várias variáveis de uma vez) e "alter" faz a alteração propriamente dita do dado que está na referência "contador". "dosync" nos devolve o resultado da última coisa que ele fez, que foi incrementar o contador. Agora, na janela do REPL, vemos algo como:

32 hello
33 hello
34 hello
35 hello
36 hello
nil nil nil nil nil nil nil nil nil nil)
user>

Que é exatamente o que nós queríamos. Agora sabemos que o programa imprime "hello" 36 vezes. Se tivéssemos compilado o programa e o executado a partir de um shell, não veríamos os "nil"s (que só são mostrados pelo REPL porque são o retorno de da função println agrupados pelo for - que retorna uma lista com os resultados).

Poderíamos ter sido mais espertos e simplesmente contado o comprimento da lista que o for nos deu (o monte de "nil"s que atrapalha a leitura da nossa saída), mas isso é para o próximo exercício.

3) Quais números, entre 5 e 2675 são pares e divisíveis por 3?

O exercício diz que eu posso escrever um programa para isso. Eu não fiz isso com Python e ainda não preciso fazer isso com Lisp. Tenho uma pontinha de dó de quem precisa.

user> (count (for [n (range 5 2676) :when (and (= (mod n 3) 0) (even? n))] n))
445

Que foi porco da primeira vez e continua porco agora. Quem leu o primeiro post (ou estava acordado no ginásio) sabe que se um número é par e divisível por 3, ele é divisível por 6. Assim, podemos usar o mesmo truque que usamos com Python na nossa solução:

user> (count (for [n (range 5 2676) :when (= (mod n 6) 0)] n))
445

Eu só sinto saudade da função "even?" da primeira implementação. É legal.

4) Números bonitos

A pergunta nos apresenta Barbara e seus critérios para que números sejam ou não bonitos. Para ela, números são bonitos se contiverem um dígito 4 e não contiverem um dígito 9. Ao final, nos pergunta quais números entre 14063 and 24779, inclusive, são bonitos.

Agora eu vou usar um pedaço do Clojure que não vem carregado, mas que é muito útil: uma biblioteca de manipulação de strings. Para usá-la, vamos fazer:

user> (use 'clojure.contrib.string)
WARNING: repeat already refers to: #'clojure.core/repeat in namespace: user,
 being replaced by: #'clojure.contrib.string/repeat
WARNING: butlast already refers to: #'clojure.core/butlast in namespace: user, 
being replaced by: #'clojure.contrib.string/butlast
WARNING: reverse already refers to: #'clojure.core/reverse in namespace: user, 
being replaced by: #'clojure.contrib.string/reverse
WARNING: get already refers to: #'clojure.core/get in namespace: user, 
being replaced by: #'clojure.contrib.string/get
WARNING: partition already refers to: #'clojure.core/partition in namespace: user, 
being replaced by: #'clojure.contrib.string/partition
WARNING: drop already refers to: #'clojure.core/drop in namespace: user, 
being replaced by: #'clojure.contrib.string/drop
WARNING: take already refers to: #'clojure.core/take in namespace: user, 
being replaced by: #'clojure.contrib.string/take
nil

Os warnings dizem que ela mudou o comportamento de algumas coisas que já estavam disponíveis. Não se preocupe com isso: só queremos a função "substring?". Agora, para saber quantos são bonitos, vamos começar com uma função que decide se um número é bonito ou não:

user> user> (defn bonito? [x]
        (and
         (substring? "4" (str x))
         (not(substring? "9" (str x)))
         ))
#'user/bonito?

Por favor, ignore que eu converti x duas vezes para uma string. Eu otimizo para legibilidade. Outra coisa: eu poderia ter usado .indexOf diretamente ou usá-lo para fazer meu próprio "substring?", mas como clojure.contrib é parte do Clojure, eu acho melhor não duplicar o que é parte do pacote.

Agora temos um "bonito" no nosso namespace. Vamos testá-la, para ver se  fizemos tudo direito:

user> (bonito? 4)
true
user> (bonito? 9)
false
user> (bonito? 49)
false
user> (bonito? 1941)
false

Daí, basta aplicá-la usando a mesma técnica que usamos no problema anterior:

user> (count (for [
           n (range 14063 24780) 
           :when (bonito? n)]
           n))
3047

Se você preferir, pode dispensar a função:

user> (count (for [
           n (range 14063 24780) 
           :when (and (substring? "4" (str n)) 
                      (not(substring? "9" (str n)))) ]
           n))

E tem um jeito ainda mais curto, usando a função "filter".

user> (count (filter bonito? (range 14063 24780)))
3047

E, se eu quiser tornar a coisa um pouco mais obscura usando uma função anônima:

user> (count (filter (fn [n] (and (substring? "4" (str n))
                             (not(substring? "9" (str n))))) 
                     (range 14063 24780)))
3047

Apesar das aparências, funções anônimas não existem para atrapalhar a legibilidade do seu código mas para que você possa construí-las somente quando necessário e passá-las como parâmetro para outras funções que vão fazer coisas com elas.

5) Os telefones

A última pergunta nos apresenta um país em que os números de telefone têm 6 dígitos. Números não podem ter dois dígitos consecutivos idênticos, porque isso é caído. A soma dos dígitos tem de ser par, porque isso é legal e o último dígito não pode ser igual ao primeiro, porque isso dá azar.

Vamos começar com os caídos. Ao contrário do nosso exemplo em Python, eu preciso me preocupar com os limites dos índices. (nth "abcdef" -1) não é aceitável em Clojure.

user> (defn caido? [n] 
        (some true? (for 
                     [i (range (- (count (str n)) 1))]
                     (= (nth (str n) i) (nth (str n) (+ 1 i)))
                     )))
#'user/caido?

Camos fazer alguns testes para ver se estamos encontrando números caídos:

user> (caido? 123456)
nil
user> (caido? 122345)
true
user> (caido? 123451)
nil

Observe que, ao contrário da solução em Python (que tem um bug, aliás) a função que identifica números caídos não identifica números que não são caídos mas que dão azar como se fossem caídos.

Vamos precisar, então, escrever uma função para os que dão azar. Essa é fácil:

user> (defn da-azar? [n]
        (= (first (str n)) (last (str n))))
#'user/da-azar?

Só para ter certeza do que fizemos:

user> (da-azar? 123456)
false
user> (da-azar? 623456)
true
E, finalmente, uma para os números legais:
user> (defn legal? [n] 
        (even? 
         (reduce + 
                  (map (fn [s] (Integer/parseInt s)) 
                       (for [c (str n)] (str c))))))
#'user/legal?

Aqui eu preciso dizer uma coisa: tem que existir um jeito melhor de invocar o método estático parseInt de Integer. Essa cicatriz entre o lado Lisp e o lado Java está muito feia.

Voltando ao exercício, vamos testar nossa função para termos certeza de que não fizemos nada errado:

user> (legal? 12)
false
user> (legal? 55)
true
Com as três na mão, basta usarmos duas no nosso critério:
user> (count (for [n (range 100000 1000000)
           :when (and (legal? n)
                      (not (da-azar? n))
                      (not (caido? n)))]
           n))
238500

Mas o exercício não perguntou quantos caídos entre 100000 e 999999. Eles nos deu uma lista. Com um pouco de mágica de clipboard, colocamos os números em uma string, que quebramos e fazemos uma lista:

user> (def tudo "214966
215739
220686
225051
225123
(...)
720202
720568
720576
")
#'user/tudo
user> tudo
"214966\n215739\n220686\n225051\n225123\n...720202\n720568\n720576\n"
user> (def numeros (split-lines tudo))
#'user/numeros
user> numeros
("214966" "220686" "225051" "225123"..."720202" "720568" "720576")
user> (count numeros)
200

Então, usamos a lista e chegamos no resultado:

user> (count (for [n numeros
           :when (and (legal? n)
                      (not (da-azar? n))
                      (not (caido? n)))]
           n))
61

61 de 200 é o resultado que tivemos antes. Se erramos, erramos duas vezes do mesmo jeito.

Não doeu tanto assim, doeu?

Muitos programadores morrem de medo de Lisp. Morrem de medo, vêm um monte de parênteses, acham confuso e desistem. Lisp é uma linguagem muito interessante - a mais antiga ainda em uso - e impõe uma certa disciplina que é útil para qualquer programador. Robert "Uncle Bob" Martin recomenda que todo programador profissional aprenda uma linguagem "diferente" das que conhece por ano. A analogia que ele faz é interessante: um carpinteiro que só sabe fazer banquinhos de pinho não é um bom carpinteiro. Ele precisa aprender a trabalhar com outros tipos de madeira e a fazer outros tipos de móvel.

Se tudo o que você sabe fazer são sites em PHP ou módulos de ERP em C#, talvez seja hora de pensar em aprender algo novo.

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A "provinha" do Google Developer Day

Algumas pessoas acharam estranho o processo de inscrição para o Google Developer Day. Nas edições anteriores, você preenchia um formulário, contava o que você fazia e onde trabalhava e ficava nisso. Os primeiros a se inscreverem iriam ao evento e pronto. Os menos atentos ganhavam a lista de espera. Agora, além do formulário, você tem que mandar um currículo e resolver alguns problemas que exigem familiaridade com alguma ferramenta de programação.

Não sei se foi essa a intenção da Google, mas, com esse processo de inscrição, eles têm seus dados de contato, seu currículo e sua avaliação em uma prova.

Mas não se anime. Essa prova não deve ser a que o RH do Google usa. Eu, pessoalmente, acredito que ela apenas existe para separar quem vai entender alguma coisa do GDD de quem não vai entender nada e evitar, com isso, que gente que poderia melhor aproveitar o evento fique de fora.

Agora que as inscrições foram fechadas e o prazo para a entrega das provas terminou, eu me sinto à vontade para publicar esse post.

A prova

A prova tem 5 questões, um pouco diferentes para cada candidato. Eu não sei se foi honesto, mas eu resolvi as minhas com uma janela e um interpretador Python do lado. E eu vou fazer o mesmo aqui.

O que esse programa faz?

x = 7
y = 4
if y > 2, then
   y = y * 2
else
   x = x * 2
print (x + y)

Esse é facil. Na janela do ipython:

In [1]: x = 7

In [2]: y = 4

In [3]: if y > 2:
   ...:     y = y * 2
   ...: else:
   ...:     x = x * 2
   ...:     
   ...:     

In [4]: x + y
Out[4]: 15

Quantas vezes esse programa imprime "hello"?

Uma observação: os loops incluem as extremidades.

for i = 1 to 5
   if i != 2, then
      for j = 1 to 9
         print 'hello'

De novo, com o mesmo truque (só que em Python, o range não inclui a extremidade maior):

In [1]: for i in range(1, 6):
   ...:     if i != 2:
   ...:         for j in range(1, 10):
   ...:             print 'hello'
   ...:             
   ...:             
hello
hello
hello
hello
...

Erm... Chato assim. Vamos tentar de outro jeito

In [1]: linha = 1

In [2]: for i in range(1, 6):
   ...:     if i != 2:
   ...:         for j in range(1, 10):
   ...:             print linha, 'hello'
   ...:             linha += 1
   ...:             
   ...:             
1 hello
2 hello
3 hello
4 hello
(...)
36 hello

Agora sim. Mesmo sem o computador, de olhar dá pra sacar que o primeiro loop roda 5 vezes e o segundo, 9. Como a condição que pula o segundo loop pula uma iteração (nem todos os testes fazem isso), o programa imprime 4 x 9 hello's.

Quais números, entre 5 e 2675 são pares e divisíveis por 3?

O exercício diz que eu posso escrever um programa para isso. Deve ser pra acomodar o pessoal que não vive sem um compilador.

In [1]: len([ n for n in range(5, 2676) if n % 2 == 0 and n % 3 == 0 ])
Out[1]: 445

Mas isso foi porco. Quem estava acordado no ginásio vai lembrar que se um número é par (divisível por 2 - essa é do primário) e divisível por 3, ele é divisível por 6. Assim, podemos simplificar nossa solução:

In [2]: len([ n for n in range(5, 2676) if n % 6 == 0 ])
Out[2]: 445

Podemos respirar aliviados agora que vimos que o resultado continua o mesmo.

Números bonitos

A pergunta nos apresenta Barbara e seus critérios para que números sejam ou não bonitos. Para ela, números são bonitos se contiverem um dígito 4 e não contiverem um dígito 9. Ao final, nos pergunta quais números entre 14063 and 24779, inclusive, são bonitos.

Para saber quantos são bonitos, podemos começar com uma função:

In [1]: def bonito(x):
   ...:     return '4' in str(x) and '9' not in str(x)
   ...:

E podemos testá-la, para ver se  fizemos tudo direito:

In [2]: bonito(4)
Out[2]: True

In [3]: bonito(9)
Out[3]: False

In [4]: bonito(49)
Out[4]: False

In [5]: bonito(1491)
Out[5]: False

Daí, basta aplicá-la usando a mesma técnica que usamos no problema anterior:

In [6]: len([ n for n in range(14063, 24780) if bonito(n) ])
Out[6]: 3047

Se você preferir, pode fazer tudo em uma linha:

In [7]: len([ n for n in range(14063, 24780) if '4' in str(n) and '9' not in str(n) ])
Out[7]: 3047

Ou, ainda:

In [8]: len(filter( lambda x: '4' in str(x) and '9' not in str(x), range(14063, 24780)))
Out[8]: 3047

Os telefones

A última pergunta nos apresenta um país em que os números de telefone têm 6 dígitos. Números não podem ter dois dígitos consecutivos idênticos, porque isso é caído. A soma dos dígitos tem que ser par, porque isso é legal e o último dígito não pode ser igual ao primeiro, porque isso dá azar.

Vamos começar com os caídos

In [1]: def caido(x):
   ...:     for i in range(0, len(str(x))):
   ...:         if str(x)[i] == str(x)[i - 1]:
   ...:             return True
   ...:     return False
   ...:

Agora vamos para os legais

In [2]: def legal(x):
   ...:     return sum([ int(n) for n in str(x) ]) % 2 == 0
   ...:

E, se olharmos a função "caido", vamos ver que ela considera caídos os números que dão azar.

In [3]: caido(123451)
Out[3]: True

Assim, basta usarmos duas no nosso critério:

In [4]: len([ n for n in range(100000, 1000000) if not caido(n) and legal(n) ])
Out[4]: 238500

Mas o exercício não perguntou quantos caídos entre 100000 e 999999. Eles nos deu uma lista. Com um pouco de mágica de clipboard, colocamos os números em uma string, que quebramos e fazemos uma lista:

In [5]: tudo = '''214966
   ...: 215739
   ...: 220686
   ...: 225051
   ...: 225123
   ...: 226810
   ...: 228256
(...)
   ...: 720576
   ...: '''

In [6]: tudo
Out[6]: '214966\n215739\n220686\n225051\n225123\n...720202\n720568\n720576\n'

Opa! Tem um '\n' no final do qual precisamos nos livrar

In [7]: numeros = tudo.split('\n')[:-1]

In [8]: len(numeros)
Out[8]: 200

Então, usamos a lista e chegamos no resultado:

In [9]: len([ n for n in numeros if not caido(n) and legal(n) ])
Out[9]: 61

61 de 200 parece razoável.

Motivo para pânico?

Não desanime se seus números forem muito diferentes dos meus. Os enunciados variam de teste para teste. Além disso, até agora eu não recebi confirmação da minha inscrição. Isso pode indicar que eu errei tudo.

Boa sorte!

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Por que você não deve deixar de ir à LinuxCon só por causa do keynote do Sandy Gupta

Os amigos

Muitos amigos meus estão dizendo que não vão à LinuxCon Brazil por conta de um keynote por um representante da Microsoft. Isso me preocupa muito e me preocupou a ponto de eu me decidir a escrever este post

O mentiroso

A Microsoft é uma entidade engraçada. É extremamente consistente e previsível. Joga baixo, sempre que pode. Seus funcionários acreditam, de coração, que está tudo bem e que é normal fazer essas coisas. Se me convidarem pra jogar bola, eu não vou. Devem dar caneladas, cotoveladas e tudo o mais que puderem, desde que acreditem que vão ficar impunes.

Sandeep Gupta veio da SCO. Foi ele o cara (eu pensei em usar "mané", mas ele sabia muito bem o que estava fazendo) que anunciou (PDF) que havia código do Unix no Linux. Eu escrevi sobre isso há muito tempo - desde então se provou que o Linux não tem código Unix nele e que a SCO não tinha nenhum direito sobre o código que ela dizia ser dela que ela dizia que foi parar (e não foi) dentro do Linux. Lá ele chegou a ser presidente da SCO Operations, seja lá o que fosse que ela operasse.

Muita gente suspeita que a SCO foi apenas um laranja para a Microsoft. A Microsoft tem uma série de coincidências interessantes de executivos que destruíram competidores e que, depois disso, acabaram trabalhando em cargos prestigiosos da empresa. Um que eu me lembro fácil é Rick Beluzzo, que fez com que a HP praticamente abandonasse o desenvolvimento do HP-UX e priorizar servidores Windows, porque, nas palavras dele "NT é o futuro" (em tempo - a divisão de servidores da HP que mais dava lucro era a dos HP-UX, na última vez que eu olhei). Depois da HP ele foi a Silicon Graphics (mais ou menos na época em que a Microsoft comprou a Softimage e estabeleceu o NT como alternativa viável para animação) e que acabou licenciando a preço de banana a tecnologia de aceleração de 3D deles para a Nvidia (que permitiu PCs com performance de 3D similar às SGIs e que enterrou de vez o negócio deles). Depois disso ele foi parar na MSN e deve ter ganho seus vários milhões com isso tudo. A história de Gupta é um paralelo notável e demonstra que, se não a SCO, pelo menos ele esteve a serviço da Microsoft desde o início.

Você contrataria um executivo como ele?

Nem eu.

Mas esse não é o ponto. O homem é um pulha e a Microsoft não é uma empresa ética. Isso não é segredo e nem é a primeira vez que eu digo isso.

O evangelista

James Plamondon era um evangelista da Microsoft. Em uma apresentação, ele explicou como se faz para esvaziar um evento de um competidor - a Microsoft simplesmente aparece no evento. Plamondon, nessa entrevista, se vangloria de ter acabado com duas conferências de desenvolvedores de Mac tornando-as multi-plataforma e impondo tracks com palestras que não interessam a ninguém. Desenvolvedores de software para Mac não querem ir a uma conferência para assistir palestras sobre como escrever software para Windows. Ao impor sua presença, ele espanta conferencistas e, a longo prazo, estrangula a conferência, que morre, aparentemente, de causas naturais. A primeira foi a Mac App Developers Conference, onde ele era membro do board da associação por trás. A segunda foi a Technology and Issues Conference. As duas tiveram uma vida longa antes da Microsoft decidir acabar com elas.

Está tudo aqui. Essa parte que eu mencionei está na página 27, mas o PDF tem 66 páginas de pura maldade (o método que ele usou para entrar na grade de uma conferência é particularmente maligno). Esse pessoal não é só ultra-competitivo. Eles não tem caráter nenhum.

O vilão

Não tenha dúvida de que a Microsoft pagou, direta e indiretamente, para estar na LinuxCon. Mas nós ganhamos com isso. O evento fica melhor no geral, tem mais dinheiro, as entradas podem ser mais baratas e o lanche pode ser melhor. O espaço pode ser mais bem-cuidado, as palestras podem ter mais pessoas. E o preço disso é que temos a oportunidade de ir lá e detonar com o cara no keynote dele. Gente! É o cara da SCO! Melhor que isso só se fosse Bill Gates! Ele vai ser um alvo fácil falando por uma hora. Você pode estar no auditório e, quando ele subir ao palco, sair como forma de protesto (cuidado - ele vai usar a carta da "intolerância" e do "fanatismo" para nos demonizar). Melhor é ficar e crivá-lo com as perguntas mais pontudas e cortantes que puderem imaginar. Se você tiver uma credencial de imprensa, use-a para fazer perguntas na entrevista coletiva. O cara é mau e merece. Simboliza e protagoniza tudo o que existe de mais errado em nosso mercado. Eu lamento profundamente não poder ir pessoalmente dessa vez, mas minha oportunidade de trollá-lo vai chegar.

O que não podemos fazer

Essa parte é muito importante.

Evidentemente, não podemos usar de violência. Eu imagino que também não seja permitido entrar com tortas no auditório. Mais importante do que tudo isso é não deixarmos que a Microsoft esvazie o evento. Se você não aprova e não tem estômago pra ficar ouvindo, vá para o corredor durante o keynote fazer alguma coisa. É uma LinuxCon, afinal. Vá escrever algum código que ajude os outros. Encontre alguém e vá resolver algum problema seu. Deixe que ele fale sozinho sobre a interoperabilidade que a empresa dele não quer. Distribua folhetos, imprima a página 27, traduza, publique em seu blog. Faça algo. Eles vivem da nossa inação.

Mas, mais do que tudo isso, não deixe de ir. O evento e a comunidade a que ele serve não precisam de Guptas e Plamondons.

Precisam de você.

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Ubuntu e o tempo de boot

Ubuntu e o tempo de boot

Não é lenda que máquinas Linux quase nunca bootam. Assim sendo, o tempo que elas levam para ficar disponíveis depois de serem ligadas é despresível comparado com o tempo em que você fica usando a máquina. Infelizmente, nem todo mundo pode deixar seu computador ligado, suspenso ou hibernando todo o tempo. Eu prefiro desligar meu netbook quando não vou usá-lo por algumas horas e, por conta disso, tenho que passar por uma "partida a frio" do computador quando quiser usá-lo de novo.

Pensando nesses usuários, o pessoal da Red Hat e da Canonical tem feito enormes progressos na redução do tempo de partida de nossos computadores. O vídeo abaixo (tirado daqui) mostra um Thinkpad com "disco" flash indo do auto-teste ao browser em pouco mais de 20 segundos.

Bootar de um disco de verdade deve demorar mais, mas, ainda assim, estou impressionado com o resultado.

Se pelo menos o Vista fizesse isso depois de um BSOD...

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"Elevate our profits"

Às vezes eu fico desconfortável criando um longo desfile de posts ridicularizando, questionando ou condenando a Microsoft. Eu preferiria ser considerado pro-software-livre, pro-diversidade, pro-inovação e outras coisas do que ser considerado mais um de tantos rabugentos anti-Microsoft.

O problema é que eles vivem fazendo coisas que merecem o ridículo público.

Não me entendam mal. Eu gosto de falar mal da Microsoft. Ela é o valentão burro da escola, que é forte, mas sempre acaba fazendo papel de bobo, mesmo quando bate nas crianças mais fraquinhas. É bronco, tem manchas de suor nas axilas e cheira mal. Peida em público. Nunca fica com as garotas.

Eu acabei de ler no Slashdot (uma fonte sem fim de inspiração para MS-related rants) que a Microsoft tem seu próprio plano de estímulo para a economia americana. O plano se chama "Elevate America".

Isso pode ou não ser uma resposta ao pedido de Obama a Scott McNeally (o divertidíssimo ex-CEO da Sun e rabugento-mor do time anti-Microsoft) para que investigasse software de código aberto como uma forma de poupar dinheiro público ou ao apelo de 19 proeminentes figuras do mundo open-source para que Obama considerasse o estímulo direto a projetos abertos como forma de estímulo econômico. Não há como saber. A idéia é suficientemente estúpida para ter partido das fileiras da companhia, de alguém ansioso demais por subir a escada corporativa.

O plano idiota é assim:

(não riam, por favor)

Em um primeiro momento, a Microsoft vai disponibilizar, em seu site, material didático ensinando coisas como como usar a internet, como mandar e-mails e como criar currículos (com Windows, IE e, provavelmente, Office, respectivamente), assim como material "mais avançado" sobre como usar outros produtos da companhia.

Em um segundo momento, ela vai recrutar a ajuda de capan^H^H^H^H^H governos locais como os dos estados de Flórida, Nova Iorque e Washington para tornar esses materiais facilmente disponíveis para seus moradores.

Estou comovido com toda essa generosidade em ensinar as pobres pessoas a usar os produtos que eles mesmos vendem. Só achei que, para ter o apelo emocional correto, faltam no site algumas fotos de filhotes de labrador.

Isso tudo é medo de que as pessoas descubram que não precisam da Microsoft para usar seus computadores? Que é perfeitamente possível fazer tudo isso que eles se propõe, generosamente, a ensinar, sem pagar um tostão pelos produtos meia-boca do paquiderme de Redmond?

Depois eles querem processar pessoas que dizem que eles adotam táticas de traficante para aliciar usuários... O que é isso se não dar de presente ao futuro dependente sua primeira dose?

Nota: Você também encontra esse artigo lá no Webinsider. Lá você também vai encontrar os comentários dos leitores de lá, que costumam ser muito mais numerosos que os daqui.

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Pequena pesquisa

Motivado por um post em uma lista que eu fiz outro dia, eu resolvi fazer uma pequena pesquisa para saber como funciona essa coisa de escolher "com qual linguagem eu vou".

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Dia de maçã

Posted by Ricardo Bánffy at Oct 14, 2008 11:27 AM |

A Apple sempre faz coisas interessantes. Às vezes proprietárias, às vezes limitadas, não raro ridiculamente caras, mas sempre interessantes.

Hoje é dia de prestar especial atenção nela, porque em algumas horas devem ser mostrados novos notebooks. Até agora, parece que o MacBook Pro de 15" ficou "mais iMac", com uma borda preta em torno do display. Deve ganhar também o teclado do MacBook Air e um trackpad sem botão (onde o próprio trackpad ficou finalmente clicável)

Há também fotos da carcaça do MacBook, que, também parece, deve aposentar o plástico e aderir ao alumínio do resto da família.

É esperar para ver.

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Muita cara de pau

Posted by Ricardo Bánffy at Oct 14, 2008 12:25 AM |

É muita cara de pau quando alguém da Microsoft fala que quem compra um Apple paga uma "Apple tax".

É querer desviar a atenção do fato de que quase todo mundo que compra um PC (eu inclusive), mesmo que não rode Windows, paga por uma licença. A isso dá-se o nome de "Microsoft tax".

É muito desonesto querer inventar um termo novo apenas para tirar significado do antigo. Além disso, é um truque muito manjado.

Quem compra um Mac compra para rodar OSX. Nem todo mundo que compra um PC compra pra rodar Windows.

É simples assim. Não existe "Apple tax". Existe "Microsoft Tax".

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Windows 7 ou Cairo 2.0

Cairo era o nome do "sistema operacional para acabar com todos os sistemas operacionais" que a Microsoft prometeu no começo dos anos 90. Cairo era uma das cartas da "mão imaginária" com a qual a Microsoft blefou por boa parte dos anos 90.

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Campanha "Abrace um Programador"

Acho que vale para gerentes de projeto, integradores...

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